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Quão frequente é mudarmos de gostos?

 

Somos, crescemos, evoluímos.
Com o passar do tempo, o nosso ímpeto e personalidade são sensivelmente constantes, mas os nossos gostos e forma de estar estão em constante mudança.
De facto, muitas das vezes, uma coisa tão simples como um filme ou uma conversa podem mudar-nos a opinião acerca de algo – seja uma questão insignificante ou um tema importante.

Daniel Gilbert (Harvard) associou-se com os psicólogos Timothy Wilson e Jordi Quoidbach e juntos fizeram um estudo interessante sobre a variação de gostos e preferências ao longo da nossa vida.
Concluíram que, apesar de termos como cliché a frase “a mudança é uma constante”, não acreditamos muito nisso.
Isto é, apesar de admitirmos que mudámos no passado – que hoje somos mais evoluídos do que ontem – acreditamos erradamente que o nosso futuro “eu”, vai ser basicamente o que somos hoje. Sentimo-nos desconfortáveis com a ideia de que no futuro vamos mudar algum aspecto do nosso carácter.
E esta é a ideia mais difícil de aceitar, a de que vamos mudar, e já não seremos “exactamente” como somos agora.

 

 

Por outro lado, curiosamente temos uma relação complexa com as nossas opiniões. Acreditamos que até as escolhas e gostos mais simples nos definem a um nível mais profundo e revelam os nosso valores, e por isso criamos quase esta “dependência” com que o outrora dizíamos que gostávamos.
Isto é, custa-nos admitir que já não gostamos de certa coisa, ou que agora preferimos algo diferente, porque sentimos que estamos a negligenciar uma parte de nós. E assim, acreditamos que talvez possamos voltar a ter essa preferência.
Talvez por isso guardamos coisas que podemos “vir a precisar”… Já nos foi útil e já gostámos, e apesar de já não nos significar muito hoje, agarramo-nos à ideia que vai voltar a ser vantajoso.

Mas a verdade é que, uma vez passando a ver de determinada forma, é pouco provável que voltemos atrás na antiga forma de pensar.

Resumindo: custa-nos separar de algo que já gostámos no passado porque reflete quem fomos, e custa-nos separar de algo que “um dia” podemos vir a precisar, porque se o adquirimos foi por alguma razão, e agarramo-nos a essa mesma razão, mesmo que já não faça mais sentido.

Acontece que mesmo que mudemos de ideias, na maioria das vezes convencemo-nos a nós mesmos que não mudámos de ideias. Ironicamente, a nossa mente não está preparada para aceitar que mudou, apesar de já o ter feito.

 

Mas, no final, quem somos hoje é o resumo de tudo o que fomos no passado. Não renegamos nada da nossa história só porque deixamos de ter algo que já não nos traz valor!